Nesta postagem, estamos transcrevendo um texto contundente do Movimento Cidades Invisíveis que trata da desigualdade profunda que temos observado.
O que vale mais?
A vida de um favelado, de um pobre ou a vida de um mais abastado?
Desde a não observância de direitos básicos, instala-se a desigualdade.
Leia, pense...
MRLL
A CUMPLICIDADE SILENCIOSA DA CIDADE VISÍVEL: NÃO VAMOS FALAR SOBRE ISSO
Existe um acordo silencioso de naturalização dos crimes cometidos pelo poder público nos espaços populares. É como se as vidas nas favelas e periferias tivessem menos importância. Mas não vamos falar sobre isso.
Há quase um ano atrás um jovem morador da Maré foi morto por policiais, no momento em que saía para trabalhar. Até hoje a família tenta provar que ele não era criminoso. Mas não vamos falar sobre isso. Vamos falar dos teatros fechados, do autoritarismo do governo em querer proibir o jogo de altinho nas praias cariocas.
Há algumas semanas atrás um jovem morador de Manguinhos de 22 anos recebeu dois tiros nos pés, emitidos por policiais da UPP, e foi preso por desacato à autoridade, lesão corporal e dano ao patrimônio público. Mas não vamos falar sobre isso. Vamos ocupar a Cinelândia, como fizeram em Wall Street, vamos nos indignar com a prisão das corajosas russas do Pussy Riot.
Hoje morreu mais um jovem, 16 anos, também morador de Manguinhos. Segundo os policiais da UPP, ele foi encontrado na porta da Unidade caído, com indícios de ingestão de álcool e drogas. Segundo os moradores, ele levou choques elétricos dentro da Unidade. Choques elétricos, como no tempo da Ditadura. Mas esse tempo já passou pra gente e não vamos falar sobre isso. Vamos olhar no enorme banner pendurado na Central do Brasil os belos olhos verdes de Cissa Guimarães e nos emocionar pela perda do seu filho caçula num acidente criminoso, afinal poderia ser o filho de qualquer um de "nós".
"Eles", jovens negros e pobres, quando sobrevivem, podem ser qualquer coisa. Quando morrem, são números de estatística. Mas não vamos falar sobre isso. “Eles” são “Eles” e “Nós” somos “Nós”. Para “Eles”, a cidade é uma só: injusta, desigual, racista. "Eles" querem (e precisam) reinventar essa cidade. Para “Nós” a cidade é partida e o que acontece “do lado de lá” é lamentável, mas não é problema "nosso". Existe um acordo silencioso. Não vamos falar sobre isso.
FONTE - Movimento Cidades Invisíveis
(https://www.facebook.com/movimentocidades.invisiveis)